Artigo – Debate, crise da suinocultura gaúcha!, por Alfredo Horing

- Alfredo Horing, natural de Nova Ramada, é economista, especialista em Plano Diretor e possui MBA em Gerenciamento de Projetos.
A suinocultura representa importante fonte de renda para a economia do Rio Grande do Sul, segundo IBGE o Estado é responsável por 17% da produção nacional no triênio 2018-2020, com uma produção de 5,7 milhões de cabeças. O setor é importante para as pequenas propriedades rurais gaúchas e vem enfrentado uma grave crise.
Nesta semana a Comissão de Agricultura, Pesca e Cooperativismo da Assembleia Legislativa do RS, debateu a crise que afeta a Suinocultura. Em audiência pública os participantes registraram que a crise tem como origem o aumento do custo de produção reflexo direto do conflito no leste europeu e a estiagem que devastou a produção de grãos do Estado do Rio Grande do Sul (RS).
Na avaliação do presidente da Associação dos Criadores de Suínos do RS, Valdecir Folador, a crise do setor tem múltiplos fatores, entre eles o crescimento da produção nos últimos seis anos com aumento do plantel e também da produtividade, aumento dos custos de produção, especialmente do valor do milho e a soja e preços abaixo dos praticados em 2021 para venda de carne no mercado internacional. “A crise atinge diretamente o produtor independente, que carrega todo o custo, mas também atinge as agroindústrias e cooperativas que arcam com prejuízos”, Valdecir disse que a expectativa é de perda de 15 mil matrizes de um rebanho de 350 mil. Para ele, as medidas necessárias para amenizar a crise são a redução do ICMS para vendas fora do estado de 6% para 3% ou 0% e a aprovação urgente do Projeto Lei do Congresso Nacional (PLN 1/2022) para injetar recursos para custeio e investimentos na agricultura.
O diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos de Suínos do RS (SIPS/RS), Rogério Kerber, garantiu que o aumento de custo da produção também alcançou insumos como embalagem, logística e frete, gerando dificuldades também para as indústrias integradoras da cadeia. Para ele, além da quebra da safra de milho e do aumento de outros insumos, a suinocultura gaúcha sofre com situação desfavorável no mercado internacional, com retração de preços. A falta de containers no mercado, estacionados em portos chineses, é outro problema que pode agravar a situação do setor.
O superintendente da Conab/RS, Carlos Roberto Bestetti, admitiu faltar três milhões de toneladas de milho para abastecer as cadeias produtivas do RS, especialmente suínos e aves. “Os estoques atuais são em torno de 4 milhões, aquém das necessidades do estado”. Ele disse que não vê movimento para aumentar a área de plantio do milho. “Acho difícil convencer o produtor a trocar o milho pela soja”.
O diretor do departamento de políticas agrícolas da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (SEAPDR), Paulo Lipp, destacou que o governo do estado fez a isenção total do Programa Troca-troca. Ele lembrou que em 2019 foi lançado um programa de incentivo para o plantio do milho, que resultou em 10% de aumento da área plantada no RS. Lipp espera pela aprovação do PLN no Congresso Nacional para que o produtor possa se recompor.
Embora debates concluam pela necessidade de ajuda dos governos ao setor, a crise é muito maior que prováveis soluções vindas dos subsídios públicos. O aumento dos rebanhos de suínos está em contramão de um poder de compra em queda, os efeitos da crise global caracterizada por recessão técnica com altos índices inflacionários, limita o crescimento da renda e o poder de compra dos consumidores finais.