Artigo – A guerra no Leste Europeu e o nosso bolso, por Alfredo Horing

- Alfredo Horing, natural de Nova Ramada, é economista, especialista em Plano Diretor e possui MBA em Gerenciamento de Projetos.
O nervosismo que segue os mercados após a invasão militar Russa sobre o território Ucraniano foi devastador, os indicies das principais bolsas despencaram, prejuízo e incertezas nos investimentos tomam conta do cenário macro econômico mundial.
A depender do tempo de sua duração, a guerra entre a Rússia e Ucrânia pode produzir impactos econômicos a mais de 10 mil quilômetros de distância, e influenciar financeiramente a vida de cada um de nós. O Brasil pode sentir os efeitos do conflito por meio de pelo menos três atividades: combustíveis, alimentos e câmbio. A instabilidade no Leste europeu pode não apenas impactar a inflação como pode resultar em aumentos adicionais nos juros, comprometendo o crescimento econômico para este ano ao reduzir o espaço para a melhoria dos preços e do consumo.
Segundo a Fundação Getúlio Vargas, existem diversos canais pelos quais a crise entre Rússia e Ucrânia pode chegar à economia brasileira. O principal é o preço internacional do petróleo, cujo barril do tipo Brent encerrou a semana em US$ 105, no maior nível desde 2014.
Outro canal pelo qual a guerra no Leste europeu pode afetar a economia brasileira são os alimentos. A Rússia é a maior produtora mundial de trigo. A Ucrânia ocupa a quarta posição. Nesse caso, o Brasil grande importador do cereal não pode contar com outros mercados, a ação climática tem comprometido os estoques de trigo na Argentina, tradicionalmente o maior exportador do grão para o Brasil.
A crise no mercado de petróleo também pressiona os alimentos. Isso porque a Rússia é o maior produtor mundial de fertilizantes, que também são afetados pelo petróleo mais caro. O Brasil compra atualmente 20% dos fertilizantes do mercado russo. O aumento do diesel também interfere indiretamente no preço da comida, ao ser repassado por meio de fretes mais caros.
O terceiro fator pelo qual a crise entre Rússia e Ucrânia pode impactar a economia brasileira será por meio do câmbio. O dólar, que chegou a atingir R$ 5 na quarta-feira (23), fechou a sexta-feira (25) a R$ 5,15 após a ocupação de cidades ucranianas por tropas russas. Por enquanto, os efeitos no câmbio são relativamente pequenos porque o Brasil se beneficiou de uma queda de quase 10% da moeda norte-americana no acumulado de 2022. O prolongamento do conflito, no entanto, pode anular a baixa do dólar no início do ano.
Nesta semana, o secretário do Tesouro Nacional, Paulo Valle, disse que o Brasil está preparado para os impactos econômicos da guerra. Segundo ele, o país tem grandes reservas internacionais e baixa participação de estrangeiros na dívida pública, o que ajudaria a enfrentar os riscos de uma turbulência externa prolongada.
No entanto, caso o dólar continue a subir e a inflação não ceder, o Banco Central pode verse obrigado a aumentar a taxa Selic (juros básicos da economia) mais que o previsto. Nesse caso, o crescimento econômico para este ano ficaria ainda mais prejudicado.
A guerra que condenávamos ao ler livros de história está de volta, redesenhando uma nova ordem mundial que será contada no futuro, “sistemas de governos autoritários versus governos democráticos tradicionais”. Vamos apostar em uma solução pacifica para este conflito, porque para a economia global e para nossos bolsos não há vencedores.