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Artigo – Jean Bertollo: Discutir ou não política na rede social?

O que já sabemos sobre várias pesquisas são que as redes sociais são mecanismos de perpetuação de visões, radicalização de jovens, de disseminação de ódio. Esse fenômeno acontece por causa de duas coisas. Uma coisa é  chamada Algorítimo, que gere o conteúdo das plataformas. Ele não distingue conteúdo bom do conteúdo péssimo, ele somente impulsiona o que mais engaja. Naturalmente que uma briga chama mais atenção do que uma discussão ponderada. O resultado é o que vemos todo dia. Um bando de gente gritando em mega-fones e querendo impor seu pensamento, e com absoluta certeza de que estão certos. Os algoritmos direcionam somente notícias as quais temos mais probabilidade de clicar e nos engajar, e nossa mente adora perpetuar e aprofundar preconceitos irracionais. Isso significa que ele nos direciona de um modo que amplifique nossa visão cada vez mais.

Esse é o argumento tecnológico de por que não vale a pena discutir política nas redes.

O argumento psicológico é um fenômeno cognitivo chamado de  Efeito contra-ataque (Back-fire Effect).  É um fenômeno que acontece na nossa mente quando crenças profundas são questionadas. Crenças políticas geralmente são profundas e ligadas à personalidade e auto-estima. As pesquisas feitas com notícias falsas mostram que as pessoas tendem a manter suas crenças profundas quando confrontadas, independente de evidências. Num dos estudos feitos foi mostrado a dois grupos uma notícia falsa. Posteriormente foi mostrado um errata dizendo que a notícia anterior estava errada. A notícia era de que foram achadas bombas perigosas nos países do Oriente. Quem era a favor da guerra não acreditou na notícia verdadeira, e sim na falsa. Isso por que a falsa era aquela que confirmava a visão de mundo desse grupo. Quem era contra a guerra, conseguiu assimilar a errata e aceitar a verdadeira notícia.

Concluem os pesquisadores que corrigir as fake news não basta para desfazes os enganos causados por ela. A mente ataca os fatos racionalizando-os para que se encaixem nas nossas crenças profundas anteriores. Os autores do estudo dizem que quanto mais profunda a crença e mais fortes os argumentos e fatos provando o contrário, mais violento o efeito contra-ataque.

Isso pode explicar muitos comportamentos radicais dentro das redes. Não conseguimos ver e consumir o que a outra pessoa está consumindo, isso dificulta muito na hora de sentirmos empatia, pois essa pessoa parece viver em outro mundo. Na verdade ela vive mesmo! Nos tornamos estranhos vivendo um ao lado do outro. Cada um dos usuários está em uma bolha de informação personalizada, culpa (em parte) dos algoritmos, e em parte da nossa tendência cognitiva. Até nossa pesquisa Google é personalizada e otimizada com base no nosso histórico e estilo pessoal de busca. Há modos de saber que é você pesquisando, só pela forma como digita, pelo modo como pesquisa.

Como mostra o estudo,  fazemos de tudo pra defender nosso lado, ainda mais quando a discussão leva em conta crenças que estão ligadas com nosso senso de identidade. É por isso que não adianta discutir muito política on-line. Algum dos seus amigos já lhe agradeceu pela visão contrária, pelo diferente ponto de vista, pelo argumento contrário ao dele? Provavelmente não. Mais fácil a pessoa se sentir atacada pessoalmente e você ter perdido o amigo. Precisamos de uma internet que amplifique nossas falhas? Ou ela deveria investir nas nossas propensões positivas? É o que muitos sites e influenciadores digitais americanos estão martelando no início deste ano. Está se criando um movimento, por hora no exterior apenas, de uma internet mais livre, menos anti-ética e mais humanizadora.

Agora que você já sabe disso, vale a pena discutir política on-line? Por hora, nestas plataformas que temos hoje, penso que não é muito útil. Melhor sair pra conversar pessoalmente, tudo será mais leve.

Pesquisas mencionadas no texto: When Corrections Fail: The persistence of political misperceptions Brendan Nyhan, Jason Reifler 2010. The Scientific Impotence Excuse: Discounting Belief -Threatening Scientific Abstracts. Geoffrey D. Munro 2010.

Jean Bertollo. Bacharel em Psicologia.

[our_team image=”https://ajuricaba.com/wp-content/uploads/2019/01/Jean-Bertollo-sobre.jpg” email=” jeann1984@hotmail.com” phone=”(055) 9-9147-8099″  style=”vertical”]Jean Alessandro Bertollo nasceu em 1990, formou-se em Psicologia pela Unijuí em 2018, concurseiro e amante dos estudos. Interessado em comportamento humano, psicologia aplicada ao trabalho e gestão e aprimoramento pessoal, aprendizagem e cognição. Escreve semanalmente para Folha de Ajuricaba, Jornal Ramadense e Ajuricaba.com
https://medium.com/psicologiadocotidiano[/our_team]

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