Cotrijui enfrenta dívidas e ameaças de agricultores
Na contramão de outras cooperativas agrícolas que entraram em liquidação judicial nos últimos anos e venceram a crise (ou estão superando), a Cotrijui segue enfrentando problemas e ameaças. Paira sobre o horizonte da cooperativa, por exemplo, a possibilidade de ter sua sede, em Ijuí, ocupada por produtores descontentes com a atual gestão. Nesta semana, em reunião realizada na sede do Sindicato Rural da cidade, um grupo de agricultores organizados sob o nome Cotrijui/Recuperação afirma que irá ocupar a sede da cooperativa caso produtores que depositaram grãos nos armazéns gerais não recebem até o próximo dia 15 os valores em atraso há cerca de três meses.
De acordo com Edson Burmann, um dos integrantes do grupo, há dúvidas inclusive se os grãos depositados nos armazéns ainda estão no local ou se já foram comercializados sem o devido repasse de valores. “Também queremos entender como a dívida que era de R$ 1 bilhão passou para R$ 1,8 bilhão”. De acordo com o grupo Cotrijui/Recuperação, a explicação dos atuais gestores é “contraditória”.
Em comunicado divulgado pelo grupo, na noite de terça-feira, a justificativa para o aumento da dívida era “juros e correção monetária”. Os produtores que ameaçam ocupar a sede, porém, defendem que o problema é a má gestão. Como exemplo, citam um débito com a Caixa Econômica Federal, que em 2010 era de R$ 91,485 milhões, passou a ser de R$ 15 milhões após negociações, a serem pagos em parcelas até 2021. No entanto, como a atual administração não teria honrado os pagamentos, a dívida voltou aos níveis anteriores, e hoje é superior a R$ 100 milhões.
A diretoria da Cotrijui, presidida desde 2017 por Eugênio Frizzo, procurada para falar sobre as queixas do grupo e detalhar ações para sanar débitos atuais e passados, não se pronunciou. Por e-mail, enviou, no início da noite, comunicado rebatendo as acusações (veja abaixo).
A situação da cooperativa não é um caso isolado de associação de produtores que passa por processo de reestruturação e enfrentamento de crise financeira no Estado. Ao menos outras oito estão em processo de liquidação, mas a gestão adotado pela Cotrijui chama a atenção por não conseguir dar a volta por cima, avalia o presidente Sindicato e Organização das Cooperativas do Rio Grande do Sul (Ocergs), Vergilio Perius. E já forma mais de 30, há seis anos, diz o dirigente. “No caso da Cotrijui, se demorou demais a adotar alguma medidas necessárias à recuperação, como fez a Comtul, de Tucunduva, que já recuperou, ou como outras muitas que estão negociando ativamente com credores e quitando débitos”, avalia Perius.
Para o presidente da Ocergs, o grande patrimônio da Cotrijui é hoje a maior garantia de que, apesar de não resolvidos até agora, os problemas e débitos tem perspectivas de solução. Outro contraponto apontado pelo setor para a falta de progresso da Cotrijui ao enfrentamento da crise é o caso da Cooperativa Agropecuária Alto Uruguai (Cotrimaio). Apesar de ainda estar em processo de liquidação, diz o presidente liquidante da Cotrimaio, Silceu Dalberto, no próximo dia 12 serão apresentados aos associados os resultados de 2017. “Estamos no caminho para sair da liquidação talvez até antes do tempo”, comemora Dalberto.
O presidente da Cotrimaio afirma que uma das provas do sucesso da gestão adotada a partir de 2013 é a retomada da confiança dos próprios associados. Dalberto conta que no ano que assumiu a gestão, apenas 20% dos associados ainda depositavam grãos na cooperativa. Hoje, assegura, cerca de 70% voltou a fazer alguma tipo de negócio com a cooperativa. Com isso, o faturamento passou de R$ 220 milhões em 2013 para R$ 402 milhões em 2017. “Há quatro anos tínhamos cerca de 50 grandes credores, a quem devíamos altos valores. Negociamos e pagamos em dia a todos. Hoje, falta quitas débitos com menos de cinco”, revela Dalberto.
O que diz a diretoria da Cotrijui
Sobre os atrasos nos pagamentos de produtores a diretoria afirma que “devido a dívidas do passado, a Cotrijui tem enfrentado penhoras de valores e de faturamento e que com isso o fluxo de caixa foi afetado, gerando a necessidade de reprogramação de pagamentos”.
Referente a acusação de que a gestão atual provocou o aumento das dívidas, a diretoria afirma que os números anteriores “mascaravam” os verdadeiros valores e que “portanto, não se trata de aumento de dívida, e sim, infelizmente foi constatado no início da nova gestão em 2013 inúmeras irregularidades e fraudes nos balanços, tanto nas dívidas, quanto na avaliação patrimonial e créditos a receber que haviam sido excluídos dos registros contábeis”.
Sobre a ameaça de ocupação da sede, o comunicado afirma que “isso será tratada com a área jurídica, pois a gestão da cooperativa é legitima, aprovada em assembleia, e não será permitido vandalismo e nem qualquer ameaça ao patrimônio da cooperativa”.
As informações são do Jornal do Comércio.