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O PROBLEMA DO SENTIDO: O sentido como ponto de chegada (o sentido da vida)

Viver não é apenas existir, estar no mundo. Os existencialistas falaram no existir enquanto se está condenado a atos de escolha, na angústia de ter de escolher. No entanto, viver não é somente existir. Viver não é somente escolher, mas também ser, fazer e encontrar sentido no ser e no fazer autêntico.

O ser humano encontra o sentido ou dá sentido a sua vida? Esta é uma pergunta que permeia a trajetória humana: caminhamos em uma direção algo predeterminado ou fomos abandonados a nós mesmos, condenados a escolher o nosso próprio destino?

Os gregos ou a visão de mundo da cultura indo-europeia, pensavam a história como um ciclo, como um círculo onde tudo é desde sempre e caminha em direção ao que sempre foi. Os gregos acreditavam que eram escravos do destino, fantoche dos deuses, sem ter nada a fazer diante da ordem da natureza. E a ordem da natureza era a hierarquia das coisas, a guerra (“a guerra é a origem de todas as coisas” dizia Parmênides), a razão (“o homem é um animal racional” dizia Aristóteles), e tudo o que não fosse assim era desordem e precisava ser eliminado em nome da ordem, da beleza (kosmos).

Já para  outra cultura como os semitas, mais especificamente o povo hebreu que é relatado na Bíblia dos judeus e cristãos, acreditavam que a história inicia-se com um chamado, primeiramente à vida (criação) e depois à missão (em Gn 12,1 Abraão é chamado a ser o pai de uma grande nação). Portanto, é a partir de um chamado (que já pressupõem a liberdade de atendê-lo ou não) que nasce a história. É uma história que tem início e tem um fim (a vinda do senhor para julgar e salvar).

Para os gregos, o sentido existe independente da liberdade. O sentido da vida é simplesmente estar-aí-no-mundo, mas sem nada a fazer diante do mundo que tem um fim independente do que se possa querer que ele tenha. O homem livre grego (que participava da democracia) não queria transformar o mundo, queria apenas encontrar-lhe a ordem e viver segunda essa harmonia.

Para os hebreus e, depois, os cristãos, o estar-aí-no-mundo é um ato de liberdade. Embora o sentido do mundo seja um chamado a construir comunidade que vive na doação e na partilha (a vontade e projeto de Deus – o paraíso), o sujeito, o povo, pode dizer não e se afastar da sua verdadeira vocação. Este afastamento foi denominado de pecado (pecado é afastar-se de Deus, não cumprir os mandamentos). Para estas culturas, o sentido é um encontrar (ação interior) e um construir (ação exterior). É lutar contra as forças da morte (a injustiça, a idolatria, os desejos de abandonar o projeto de Deus). O sentido é dado, mas precisa ser assumido.

O desejo que deseja e não sabe o que deseja, esse caminhar a procura do “objeto obscuro do desejo” é a busca do sentido.

Se a humanidade não sentisse ardentemente essa sede de sentido, esse desejo de algo que as coisas, os fatos, os sonhos alcançados não conseguem saciar, se a humanidade não quisesse saciar-se de sentido, nunca perguntaria: “qual é o sentido da vida?”

Todo mundo sente um desejo de encontrar ou dar sentido ao que faz e ao que vai fazer: “onde quero chegar agindo assim?” O saber-se que um dia se há de morrer é a experiência que mais dá sentido à vida. A morte nos diz que um dia não podemos mais fazer aquilo que fazemos, sabendo ou não porque o fazemos. É o prazo que se encerra: “que sentido dei a minha vida?”.

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