O PROBLEMA DO SENTIDO: a memória/história pessoal como fio que tece o sentido

A construção do sentido tem a memória como fio que tece uma história pessoal e coletiva. Com a memória, construímos uma narrativa de quem somos através dos locais em que passamos e das escolhas que fizemos. Cada um de nós tem uma história. Um dia nascemos. Fomos cuidados por alguém. Começamos a descobrir o mundo. Fomos crescendo e interpretamos os fatos e os acontecimentos de nossa vida. Criamos uma bagagem de sentido até o ponto em que cada um é capaz de dizer, para si, qual é o sentido do mundo…
A crise de sentido inicia quando o que acreditamos ser o único sentido possível se depara com outros sentidos também possíveis. Isso se dá, principalmente, no entrecruzamento e choques de visões de mundo e de culturas diferentes. No mundo pluralista e globalizado, o conflito de interpretações de sentido é inevitável. Os sujeitos se sentem perdidos, pois o sentido que deram para o mundo é questionado por outras forma de ver…
O problema da falta de sentido é enfrentado por todos durante toda a vida. Mesmo quando há um sentido aparentemente assumido, há uma pequena ou grande tendência de duvidar ou rejeitar este sentido (o ser humano é um ser que protesta com aquilo que é). Ninguém é plenamente satisfeito com o sentido que deu para a vida e para a realidade.
A nossa busca pelo sentido se alicerçou e criou raízes nos modelos que nos inspiram na construção de nós mesmos: nossos pais, parentes, amigos, grupo que pertencemos. Eles não dizem quem somos, mas sugerem-se. Os alicerces foram colocados, e a casa inteira só vai terminar com a nossa morte, pois durante toda a vida teremos uma multiplicidade de experiências que vão coloca mais um tijolo nessa construção que é o sentido que damos à vida e à existência.
Escola, Igreja, associações, CTGs, em que há um fluxo de pessoas e de ideias cristalizadas e apontam direções coletivas são capazes de amenizar a crise de sentido. O problema surge quando os grupos e as coletividades se fecham para o diferente e encaram outros sentidos como ameaçadores e que precisam ser combatidos e derrotados. Daí que o caminho não é o fechamento, mas o diálogo, sem perder os princípios e valores que cristalizam as identidades.
A identidade e os valores são criados no tempo, portanto, são históricos, mas sem valores e princípios reina o caos e nenhum ser humano ou instituição é capaz de resistir ao choque da multiplicidade de compreensões e sentidos. A saída, portanto, é a recuperação da história pessoal e coletiva para que não reine a falta de sentido e o pânico em tempos de globalização.