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O PROBLEMA DO SENTIDO: o sentido como ponto de partida

Quando o ser humano olha para o entorno de si, ele se situa no tempo e no espaço. Ele se percebe dentro de um contexto que chama de mundo. Percebendo-se no mundo, vai tentar entender como esse mundo funciona, quais são suas leis, para que não seja surpreendido e não se sinta ameaçado pelo estranho e extraordinário.

Por muito tempo o mundo pareceu lógico, estável, simples e acolhedor. Com as mudanças rápidas dos últimos cinquenta anos no campo da tecnologia, seguido do avanço da economia de mercado neoliberal, em que o indivíduo é chamado a ser constantemente criativo para ser competitivo, produziu-se, com isso, mudança nos valores. Vivem-se tempos líquidos e gasosos. Nada permanece por muito tempo.  Resultou disso o sentimento de que o tempo acelerou e que não existe uma estabilidade no mundo. Essa constatação está deixando muitas pessoas em pânico.

Vivemos, por isso, uma crise de sentido. Falta de sentido é, em uma de suas faces, a falta de orientação no seu contexto.

O ser humano sempre procurou o sentido das coisas, uma explicação, uma ordem. Quando uma explicação do mundo não se sustenta, há um momento de crise.

A crise pode ser uma oportunidade de mudança quando se consegue assumir a situação de que há um significado anterior que não pode mais ser sustentado e, por isso, deve ser procurado outro significado mais completo para a atualidade.

No momento em que um dado sentido, que era tido como normal e verdadeiro é questionado, há um primeiro movimento de reafirmação do antigo sentido, buscando novos elementos que justificam aquela posição. Se, mesmo assim, o antigo sentido não se sustenta mais, o indivíduo ou a comunidade humana é obrigada a encontrar um sentido mais completo.

O Epistemólogo Jean Piaget trabalhou esse momento de crise-superação ou desorganização/reorganização dentro do processo de educação da criança e chamou de ‘reestruturação do esquema cognitivo’.

A sociedade atual sofre uma forte crise de sentido como ordem, como explicação. Sobretudo, porque seus dois modelos político-econômico falharam: o socialismo real e o capitalismo.

O capitalismo, dando primazia ao indivíduo fez surgir o individualismo e acentuou a ‘guerra de todos contra todos’. O socialismo, de estilo estatal, cometeu o erro de não considerar o indivíduo, mas apenas o Estado. Dessa forma, o Estado, que era responsável por emancipar o ser humano da opressão, desumanizou-o tirando-lhe a liberdade e a criatividade.

Nesta crise de sentido, agravada pela desvalorização do ser humano e supervalorização das coisas, a pessoa humana é condenada a não encontrar o sentido do mundo.

(continuaremos na próxima semana)

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