Conheça José Paranhos, um gaúcho que viajou o Brasil inteiro de bicicleta para realizar o sonho do irmão

O sonho do gaúcho Diogo estava prestes a se concretizar. Ele pretendia percorrer todo o país, conhecer as diferentes culturas e, principalmente, a predisposição das pessoas em receber e ajudar a quem precisa. Com um detalhe: Ele embarcaria na aventura a bordo de uma bicicleta, apenas com a roupa do corpo e uma mochila nas costas. Em agosto de 1992, no entanto, o plano do ciclista foi abreviado. Diogo foi assassinado, vítima de um assalto, em Porto Alegre.
No entanto, o sonho seguiu vivo e se tornou uma obsessão para seu irmão, José Paranhos. Dag, como é conhecido, seguiu todo o script planejado por Diogo. Aproximadamente dois anos depois da morte do irmão, deixou a Capital praticamente sem levar dinheiro algum. Desde então, passou pelos 26 Estados do Brasil e o Distrito Federal, visitou mais de de 1,7 mil municípios e calcula ter percorrido 41 mil quilômetros. Tudo está registrado em documentos que consegue em prefeituras e entidades, além de reportagens como esta.
O Ajuricaba.com, em parceria com o Jornal Gazeta Regional, fez esta entrevista com Dag, para saber da sua história e de seus planos para o futuro. Tínhamos muitas perguntas para fazer, durante apenas 4 horas de conversa – que pareceram 5 minutos. Tenho certeza que você também teria algumas. Não esqueça de deixá-las nos comentários ali embaixo.
Entrevista
Conte sua história e porque começou a pedalar pelo Brasil.
A razão pela qual iniciei minha jornada é a morte de um amigo muito querido, meu irmão, que foi assassinado em Porto Alegre aos 21 anos. Ele tinha este plano de cruzar o país em uma bicicleta e eu era contra. Três garotos o abordaram, sendo dois menores e um maior. Cheguei a ficar cara a cara com um deles. Acabei entrando em depressão e até baixei hospital graças àquele 21 de agosto de 1992. Na época, trabalhava em uma siderúrgica e estudava medicina esportiva. Cheguei até ser chamado para jogar no Internacional. Após superar esta crise, decidi pôr em prática o sonho do meu irmão, Diogo. Saí pelo Brasil apenas com uma bicicleta, uma mochila e alguns trocados. Em cada cidade que visito, muitas pessoas me ajudam e eu contribuo com minha história de vida dando palestra nas escolas.
Quais foram os lugares mais importantes que já passou?
Dois estados me chamaram a atenção: Minas Gerais e Piauí. No Vale do Jequitinhonha, pude sentir na pele a tristeza da pobreza. No Piauí há riqueza cultural, mas pouca vontade dos políticos. A Serra da Capivara me chamou a atenção pela rara beleza, em São Raimundo Nonato. A diferença entre os estados é que Minas é rica e tem pobreza e Piauí é pobre e tem muita riqueza. Aliás, Minas Gerais foi o estado que mais gostei. Visitei lugares perigosos como o Morro do Borel, no Rio de Janeiro, e passei muito medo. Lá, cheguei a ser assaltado por um garoto armado. No Rio estive no Acari e na Mangueira, onde me hospedei na casa de dona Zica, patrona da Mangueira. Uma cidade que tenho muito carinho é Veranópolis, na Serra gaúcha. Por outro lado, Ijuí foi um dos piores lugares que conheci, tive problemas com políticos e senti até preconceito de pessoas nas ruas. Morei na favela de Heliópolis, em São Paulo, e o fiz para ver e sentir a realidade do local.
Algum desses lugares te deu vontade de ficar, morar, construir família?
Salvador do Sul, cidade da Serra gaúcha, ao lado da São Pedro da Serra foi um local que quase me fez parar. Veranópolis, como já falei, também gostei muito. São locais de povos hospitaleiros, educados e acolhedores. Um lugar que nunca mais quero ir é Pouso Novo. O litoral brasileiro também é extraordinário, na verdade é impossível dizer apenas um local. Família? Bem, São Paulo e Minas Gerais foram lugres onde me apaixonei e conheci pessoas que realmente quase me fizeram deixar a estrada para casar e constituir uma família.
Pretende viajar ainda mais? Que lugar ainda tem o sonho de conhecer? Talvez exterior?
Não pretendo parar tão cedo. Enquanto tiver vida, força e vontade, não irei parar. Quero voltar a percorrer Santa Catarina. Tenho o sonho de refazer o Brasil de moto para rever pessoas e famílias que quero muito agradecer, principalmente no Nordeste. Parelhas, no Rio Grande do Norte, foi a cidade onde mais tempo fiquei, dois anos e três meses. Tenho saudade do local. Mantenho contato virtual com alguns amigos pelas redes sociais, mas não tenho muito tempo. Vou confessar uma coisa: Almenara no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, é uma terra com muitas belas mulheres. Esse também é um lugar que vale a pena voltar.
Quais os maiores desafios que um viajante enfrenta em usa jornada?
Na estrada, caminhoneiros que são muito violentos, e nas cidades os órgãos públicos, nos quais se precisa de paciência e tolerância. Há muita burocracia e dificuldade de apoio por parte dos administradores. Há lugares onde a vontade de cooperar é mínima, o que é triste principalmente pelo trabalho que faço nas escolas contando minha história e levando um pouco do meu conhecimento de vida aos alunos.
Durante suas viagens, com certeza conheceu muita gente. Teve contato com algum famoso? Conte-nos.
Tive. Conheci o Neguinho da Beija-Flor, Zico, Wesley Safadão e pessoal do Calcinha Preta, mas são pessoas que encontrei casualmente, com alguns almocei. Zico é uma pessoa que me faz o admirar ainda mais, ele é um craque dos campos e da vida. Gostei muito dele. Maria Fernanda Cândido também conheci. Estar com Jô Soares foi legal, mas o cara mais humilde que conheci foi o Serginho Groisman.
Qual a sua impressão sobre Ajuricaba e porque decidiu passar por aqui?
Diferente de Ijuí fui muito bem recebido nesta cidade, e passar por aqui é importante e fara parte da minha história. Com certeza, contarei as histórias de Ajuricaba nas escolas por onde passarei e onde falo sobre minhas aventuras.
Separamos também algumas fotos que Dag registra pelos lugares em que passou aqui no Rio Grande do Sul. Muitas delas são dignas de quadro. Veja abaixo:
Todas as fotos foram tiradas do perfil pessoal no Facebook de Dag. Algumas não possuíam localização, mas achamos que vocês gostariam de ver.